Terça, 02 Fevereiro 2010

Brasil perde Neide Castanha, e as crianças uma defensora

Crianças e adolescentes de todo o Brasil perderam uma mãe na noite da última terça-feira (26). Depois de dois meses de luta contra um câncer e um dia após se internar no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, faleceu, por volta das 22h30, Neide Castanha, mineira e militante em favor dos direitos humanos e sociais de crianças e adolescentes.
Foi muito rápido. De manhã: amigos e familiares preocupados com a internação; à noite, recebem a notícia. Neide estava fraca, mas todos acreditavam em sua recuperação. Neide não resistiu e se foi deixando saudades para família, amigos e principalmente para as milhares de crianças, adolescentes e jovens para quem dedicou toda a vida.
Formada assistente social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, especialista em políticas públicas e direitos da criança e do adolescente, Neide ficou à frente do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes desde 2004, permanecendo até quando a doença a venceu.

Neide Castanha: "As crianças não têm dono, são patrimônio do País"
Na sua trajetória, grandes conquistas. Entre elas, a mobilização nacional para aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a luta em defesa dos adolescentes privados de liberdade, e a capacidade de organizar lideranças de vários países para a realização do 3º Congresso Mundial de Enfrentamento à Violência Sexual, no Rio de Janeiro, em 2008.

Neide foi também uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da metodologia de uma importante ferramenta para o combate a violência infanto-juvenil, o Disque Denúncia -100, para notificação de casos de violação dos direitos sexuais de crianças e adolescentes.

Uma das primeiras reportagens que fiz, ainda na faculdade, foi justamente por ocasião da mobilização do 18 de maio, Dia Nacional do Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, na Esplanada dos Ministérios, em 2006.
Lá estava ela, orgulhosa com a grande mobilização de meninos e meninas que subiram a rampa do Congresso Nacional para entregar abaixo assinado com cinco mil assinaturas, que reivindicava maior proteção às vítimas e punição àqueles que violentam sexualmente criança ou adolescente no País.

"Esquecer é permitir, lembrar é combater!"
Por seu relevante trabalho, Neide recebeu premiações e homenagens, como o "Prêmio Claudia 2009" e o "Prêmio Mulher Cidadã Bertha Lutz", ambos pelo amplo trabalho realizado em favor dos direitos de crianças e adolescentes.
Para amigos, familiares e militantes da área dos direitos humanos, os prêmios reconhecem a trajetória de ousadia de Neide Castanha.
"Nossas crianças e adolescentes perdem uma grande aliada, as instituições que trabalham na área da violência sexual uma profissional comprometida com essa causa e o Brasil uma de suas maiores especialistas na área", conta a amiga e socióloga Graça Gadelha.
Neide Castanha foi uma mulher que sempre aceitou desafios e enfrentou barreiras.
Nesta terça-feira (26), ela encerrou uma missão iniciada na Praça da Sé, em São Paulo, durante os trabalhos da faculdade, onde começou a olhar e lutar por crianças e adolescentes carentes, famintos, violentados, necessitados -, maioria ainda invisível aos olhos de brasileiros e governantes.
O sepultamento da assistente social Neide Castanha aconteceu na tarde desta quarta-feira (27), no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília.

Agência DIAP - 27.01.2010
Por Suely Frota